Pyro e as Flores



O dia não estava a começar bem para Pyro.
De madrugada a trovoada tinha desfeito os fios de luz que ele, com tanto trabalho, fez no dia anterior. Abanava a pequena cabeça, refletindo que tinha de voltar a ligar as flores aos raios de sol.

Enquanto assim pensava, olhando desconsolado para todo o Vale de Ló, no sopé da montanha da Cumieira, viu algo que lhe arrepiou os caracóis fulvos… Ao longe, lá muito ao longe, viu um grupo de meninos e meninas que subiam a estrada.

As flores seriam arrancadas e nada valia a pena então…

Escondeu-se na orla da floresta e observou. Infelizmente tinha razão, as meninas já tinham começado a colher as belas flores e os meninos corriam atrás uns dos outros pisando-as.

Uma das meninas chegou perto de Pyro e debruçou-se para uma flor estendendo a sua mãozinha… Pyro voou perto da cara dela assustando-a. Mas, como era uma menina valente perguntou: - Quem és tu?

A menina viu a luz de Pyro e ele soube… Pelo artigo 347 do Código dos Duendes, Fadas e Elfos tinha de se mostrar.

E foi com uma melena ruiva caída para o olho direito, apenas mostrando um olhinho brilhante cor de fogo-esverdeado, os braços cruzados no peito- em jeito ameaçador-, tremendo com um pé sobre um galhinho de feto, que esta criaturinha se mostrou, o tamanho de um palmo de mão…

A menina olhou espantada e abriu a pequena boca que tapou com a mãozinha.

-Sou Pyro e trato das flores. – respondeu com um sorriso torcido.

A menina estava cada vez mais espantada… Apresentou-se e perguntou-lhe o mais óbvio:

- Mais alguém te vê? – Pyro respondeu que se calhar não… Talvez ela o visse porque não arrancava flores nem maltratava os caracóis, pensou ele e, foi o que lhe disse.

- Mas os meninos que arrancam as flores e as pisam não sabem o mal que fazem! – disse Pyro com calor, empinando o seu narizinho arrebitado e tremendo-lhe as orelhinhas afiladas com alguma irritação.

A menina perguntou: - Como posso ajudar? Eu sei que não se deve arrancar flores, nem maltratar os pequenos insectos, nem nenhum animal. Os meus pais ensinaram-me e eu sempre fiz assim.

- Todas as vidas pertencem à Grande Vida e devem ser respeitadas. – Pyro refletia que o seu pai deveria ser o carvalho onde vivia, só se lembrava de aparecer um dia debaixo da sua copa e começar a dança da Luz com os seus irmãos, os elementais do fogo. E a mãe deveria ser a terra debaixo dos seus pés… Talvez fosse assim e foi isto que explicou à menina que o ouvia com atenção.

A menina entretanto tinha tido uma ideia. Reuniu os outros meninos e contou-lhes tudo isto. E foi assim que, no prado de Ló, se acabou com a colheita das flores. Futuramente os filhos desses meninos e meninas seguiram os carreiros e evitaram pisar flores e pequenos seres... E Pyro brincou com eles até ser bem velhinho e voltar para a Grande Vida.



Paz e Amor

Curadora64

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