EMERGÊNCIA KUNDALINÍ - PORTUGAL

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Blog dedicado aos praticantes de Yôga que estão a ter problemas relacionados com o despertar da kundaliní


Na sua Kundaliní Clinic, Sannella estudou sozinho cerca de 1000 casos desses (S. Grof & C. Grof, 1995). Sannella (1992), procurou distinguir a «síndrome da fisio-kundaliní» da psicose. Ao catalogar os sinais (indicações objectivas) e os sintomas (descrições subjectivas) do despertar da fisio-kundaliní, Sannella dividiu-os em quatro categorias básicas:

1. Motores – qualquer manifestação que possa ser observada e medida independentemente:

· Movimentos e posturas espontâneas do corpo;

· Tipos incomuns de respiração;

· Paralisia.

2. Sensoriais – sensações interiores, tais como, luzes, sons, e experiências habitualmente classificadas como sensações:

· Sensações de palpitação;

· Sensações de calor e de frio;

· Luzes interiores e visões;

· Sons interiores;

· Dor.

3. Interpretativos – qualquer processo mental que interprete a experiência:

· Emoção incomum ou extrema;

· Distorções no processo do pensamento;

· Distanciamento;

· Dissociação;

· Visão singular;

· A experiência do “grande corpo”.

4. Não-fisiológicos – fenómenos que, tomados como acontecimentos genuínos que apresentam um valor evidente, devem envolver factores pelos quais as explicações fisiológicas não são suficientes:

· Experiências “fora do corpo”;

· Percepções psíquicas.

Sannella (1992) concluiu que:

1. O despertar da kundaliní não é bem um estado modificado de consciência, mas sim um processo de transformação psicofisiológica, já que pode durar de alguns meses até muitos anos. A lenta progressão da kundaliní e a sua posterior descida pela garganta, acompanhada por uma variedade de movimentos, de sensações e de distúrbios mentais, que terminam quando esse estímulo móvel chega ao ponto culminante no abdómen, são tão característicos que esse período foi denominado: «ciclo da fisio-kundaliní»;

2. Todos os elementos característicos do complexo fisio-kundalínico encontrados estão incluídos na descrição clássica. No entanto, algumas pessoas completaram o ciclo fisio-kundalínico numa questão de meses, enquanto as escrituras do Yôga prevêem um mínimo de três anos para a culminação do pleno despertar da kundaliní, no caso dos iniciados mais avançados. Aqui temos a sugestão de que o pleno despertar da kundalinícompreende um complexo mais amplo, de que o ciclo fisio-kundalínico é apenas parte;

3. Nalguns casos, um estado semelhante à esquizofrenia pode resultar quando a pessoa que está a passar pela experiência da kundaliní recebe um feedback negativo, por meio da pressão que a sociedade exerce, ou através das resistências criadas por um condicionamento anterior. Sannella acredita que muitos casos de internamento psiquiátrico, por supostas psicoses, são na realidade pessoas que despertaram a kundalinísem a devida preparação. Além disso, as sensações de calor neste processo são comuns, mas raras nas psicoses;

4. Os sintomas podem ser suavizados com a introdução de uma dieta mais rigorosa (por vezes, o vegetarianismo), de exercícios vigorosos e a suspensão da meditação;

5. Os resultados obtidos na Kundaliní Clinic apoiam o ponto de vista de que essa força é positiva e criativa. Quando se lhe permite avançar até ao final, esse processo pode culminar no equilíbrio psicológico profundo, na força interior e na maturidade emocional. Todos os pacientes relatam que lidam mais facilmente com a tensão e se sentem mais realizados do que antes nos relacionamentos pessoais;

6. A síndroma da fisio-kundaliní pode ser confundida com uma doença de natureza virótica: a doença da Islândia, também conhecida por encefalomielite infecciosa aguda, poliomielite atípica, e neuromiastenia epidémica. Nesta patologia, o único sintoma não presente, é a percepção da luz interior;

Sannella (1995) salienta ainda que:

7. Na sua subida, a kundaliní faz o sistema nervoso central livrar-se da tensão. Em geral, os pontos de tensão provocam dor durante a meditação. Quando encontra esses pontos ou blocos de tensão, a kundaliní começa a agir “por vontade própria”, dedicando-se a um processo autodirigido e autodelimitado de expansão por todo o sistema psicofisiológico a fim de remover esses blocos;

8. Da mesma maneira como a corrente eléctrica produz luz ao passar por um ténue filamento de tungsténio, mas não quando passa por um grosso fio de cobre, porque o filamento oferece uma apreciável resistência enquanto o fio não o faz, assim também a kundaliní causa a maior sensação quando penetra numa área “bloqueada” do corpo ou da mente. Mas, o “calor” gerado pela “fricção” da kundaliní nessa “resistência” logo “consome” o bloco, fazendo cessar a sensação;

9. Removido um bloco, a kundaliní flui livremente e continua a sua jornada ascendente até encontrar a próxima área de tensão. Mais tarde, a energia da kundaliní difunde-se na sua jornada, de modo a poder operar em vários níveis ao mesmo tempo, removendo vários blocos distintos. Quando o percurso é completado, toda a energia volta a concentrar-se no topo da cabeça;

10. A diferença entre esse estágio final e a etapa inicial não é simplesmente a concentração da kundaliní num lugar diferente, mas o facto de ter passado por todas as partes do organismo, nelas removendo blocos e despertando a consciência. Logo, o processo de acção da kundaliní pode ser considerado um processo de «purificação».

Sannella em entrevista a Feuerstein (1991b), refere também que: “as pessoas de tipo mais intelectual tendem a vivenciar a experiência do despertar da kundaliní de uma forma menos dramática do que as de tipo mais sensual ou afectivo” (p. 159).

Sannella (1992) considera ainda que, apesar da experiência da kundaliní ser acompanhada de muitos sinais e sintomas desagradáveis, que podem parecer psicoses, histeria, doenças nos olhos, ataques cardíacos, doenças gastrointestinais, infecções pélvicas e até esclerose múltipla, estes não devem ser considerados patológicos. Para justificar isso, narra a seguinte história:

"O tecido epitelial rasga-se, o sangue derrama-se e grande quantidade de líquido se perde; o coração acelera-se e a pressão sanguínea sobe. Há gemidos, choro e gritos. Um ferimento grave? Não, trata-se apenas de um parto relativamente normal. A descrição soa como algo patológico apenas porque os sintomas não foram considerados em relação à sua consequência: um novo ser humano. Num quarto escuro, sozinho, um homem está sentado. O seu corpo é tomado por contracções musculares. Indescritíveis sensações e dores agudas percorrem-lhe os pés, subindo-lhe pelas pernas, até às costas e pescoço. Ele tem a sensação de que o seu cérebro está a ponto de explodir. Dentro da cabeça, ouve rugidos, zunidos, ruídos agudos. Ardem-lhe as mãos. Sente o corpo cingir-se por dentro. Então, súbito, irrompe numa gargalhada e é dominado por uma suprema felicidade. Uma situação vivida por um psicótico? Não, trata-se de uma transformação psicofisiológica, um processo de “renascimento” tão natural quanto o nascimento físico. Parece patológico apenas porque os sintomas não são considerados em relação à sua consequência: um ser humano fisicamente transformado." (p. 9)

Os sintomas causados por este processo desaparecem espontaneamente com o tempo. Dado o seu carácter essencialmente “purificador”, e dado que cada pessoa tem apenas uma quantidade finita de “impurezas” do tipo removido pela kundaliní, o processo é autolimitador. Por isso, os distúrbios observados não devem ser considerados patológicos em si mesmos. A força da kundaliní surge espontaneamente das profundezas da mente e é, ao que parece, autodirigida. Assim, a tensão e o desequilíbrio surgem não do processo, mas da interferência consciente ou subconsciente nele. Ajudar a pessoa a compreender e a aceitar o fenómeno pode ser a melhor coisa que podemos fazer (Sannella, 1995).

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