Phowa - a transferência da consciência
Admito que esta leitura será para quem já se livrou de grande parte do apego por um corpo e uma realidade terrena.
Segundo a tradição tibetana e eu comprovei isto mesmo recentemente existe uma janela de oportunidade para a iluminação, e subsequente libertação do samsara na altura da nossa morte.
Se formos sábios vamos preparar-nos para a nossa morte como a coisa mais importante da nossa vida.
Esta prática, phowa, com mais de mil anos - segundo a tradição foi instituída por Padmasambhava - é a melhor para este efeito.
Phowa lê-se "po-uá" e é a palavra tibetana que descreve a transferência de consciência do nível mental quotidiano para a Clara Natureza da Mente Universal. Embora seja uma prática espiritual tibetana usada com muito êxito no passamento dos moribundos é adequada a toda a gente, qualquer pessoa pode praticar para a sua própria cura, treino para futuro passamento ou para ajudar os seres amados moribundos, até mesmo os já falecidos.
A prática essencial da Phowa
Primeira prática
Primeiro certifiquem-se que estão confortáveis e assumam a posição de meditação.Se estiverem perto da morte podem ficar deitados.
Sosseguem a vossa mente, libertem-se e descontraiam-se completamente.
1- Invoquem no céu à vossa frente, a encarnação da Verdade em que acreditem e à qual estejam muito ligados, sob a forma de uma luz radiante. Podem escolher Cristo, Buda, etc.
O importante é terem a consciência de que esse ser encarna a Verdade, a Compaixão e a Sabedoria de todos os Seres iluminados e sentirem essa presença. Mais do visualizar é importante acreditar que esse Ser está ali.
2- Foquem a mente, o coração e a alma na presença que invocaram e rezem:
Por intermédio da tua bênção, graças e liderança, por intermédio da Luz que jorra de Ti:
Que sejam purificados e removidos todo o meu karma negativo, emoções destrutivas e bloqueios.
Que me possa saber perdoado de todos os males que causei e pratiquei.
Que possa concretizar esta profunda prática da phowa e tenha uma morte boa e pacifica.
E que por intermédio do triunfo da minha morte, possa ser capaz de beneficiar todos os outros seres, vivos ou mortos.
3- Agora imaginem que a presença de Luz que invocaram se sente tão tocada pela vossa oração tão pungente e sincera que lhes responde com um sorriso e lhes envia o seu amor e compaixão num fluxo de raios de luz proveniente do coração. Quando estes vos tocam e penetram, limpam-vos e purificavam-vos de todo o karma negativo, emoções destrutivas e obscurecimentos que são a causa de todos os sofrimentos.
Verão e sentirão que se encontram totalmente imersos em luz.
4- Agora que estão completamente purificados e curados pelo feixe de luz proveniente da Presença, considerem que o vosso próprio corpo, uma criação do karma, se dissolve totalmente em luz.
5- O corpo de luz que agora são ergue-se nos céus e funde-se inseparavelmente com a abençoada presença da luz.
6- Permaneçam tanto tempo quanto possível nesse estado de Unidade com a Presença.
Segunda prática
1- Para tornar esta prática ainda mais simples comecem, tal como na anterior, por depois de se instalar tranquilamente, invocar a Presença da encarnação da Verdade.
2- Imaginem a vossa consciência como uma esfera de luz no vosso coração, que se liberta como uma estrela cadente e voa para o coração da Presença que se encontra na vossa frente.
3- Dissolvam-se e fundam-se na Presença.
Por intermédio desta prática estão a investir a vossa mente na sabedoria do Ser iluminado, o que é o mesmo que render a alma à natureza de Deus. Dilgo Khyentse Rinpoche diz que isto é como atirar uma pedra a um lago. Pensem nela a mergulhar nas águas, cada vez mais fundo, e imaginem que, por intermédio da bênção, a vossa mente se transforma pela sabedoria desta presença iluminada.
Terceira Prática
O modo mais essencial de executar a prática é este: pura e simplesmente fundam a vossa mente com a sabedoria da presença pura. Considerem: "A minha mente e a de Cristo* são uma única."
Escolham qualquer uma das versões do Phowa com que se sintam mais confortáveisem determinada altura. As práticas mais simples são as mais poderosas.
O que é necessário é praticarem para no momento da morte ser apenas necessário invocar a Presença e mergulharem na sua Luz.
Conta-se que Gandhi quando foi baleado murmurou imediatamente Ram, Ram, Ram que é um dos nomes dos avatares de Vishnu. Ele preparava-se para a fusão.
Existem outras práticas mais complexas que devem ser executadas com o auxilio de alguém muito experiente. Mas as que descrevo aqui são apenas uma meditação muito simples que qualquer pessoa pode, e deve, praticar. Pode inclusive fazer por alguém moribundo que esteja a acompanhar como ente querido ou cuidador.
Um dos sonhos que tenho é o de ver cada vez mais gente a encarar a sua verdadeira Natureza pelo que ela É. E assim sendo, nos hospitais, onde morre tanta gente, o pessoal médico deveria estar habituado a praticar a Phowa pelos moribundos. Garanto que o ambiente melhoraria muito para todos.
A morte é apenas uma passagem de um estado para outro.
No filme seguinte, Khenpo Sherab Sangpo explica os seis Bardos (vida, meditação,dormir / sonhar, morte, pós-morte, e renascimento) como a prática da Phowa (transferência da consciência) de acordo com a linhagem Longchen Nyingthig. Osensinamentos de morrer com a consciência desperta são os mais profundos no Budismo.
"A Natureza da Mente é e sempre foi Budha. Não tem nem nascimento nem cessação, como o espaço. Realizar que a natureza de todas as coisas é equânime e permanecer nesse estado sem procurar mais nada é meditar." - Garab Dorje
* ou Buda, ou a Presença que escolham como representante da Verdade Divina.
Adaptado por C64 a partir de "o livro tibetano da vida e da morte" de Sogyal Rimpoche.
Nota: segundo a tradição Sakya, a prática principal dos yogins consiste numa projeção da consciência que está ao nível do coração, através do canal principal da colunavertebral saindo pelo chakra coronário, a moleirinha da nossa cabeça, atingindo osReinos Búdicos. Os meus alunos vão reconhecer isto como um dos exercícios do Raja yoga.
Paz e Amor
Curadora64
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