MAHASAMADHI 2012 ULTIMO ENCONTRO COM SAI NA INDIA
Os anos estavam passando. Já fazia vários anos que não viajávamos à Prasanthi Nilayam. O desejo crescia no coração mas , por muito tempo, não foi materialmente possível viajar. O pensamento sempre estava trabalhando esse desejo. Até que um dia, decidimos dizer ao Grupo, na reunião de Bhajans que nós dois, Zaíde e eu viajaríamos à Índia. Repentinamente várias pessoas do grupo acharam por bem juntar-se a nós. Tínhamos algumas devotas que nunca tinham saído do país e que expressaram o desejo de juntar-se ao grupo. Começou a formar-se aquele entusiasmo por estar indo aos Pés do Avatar. O grupo cresceu e chegou a 11 pessoas. Foi um grupo coeso, unido e, sobretudo feliz por estar enfrentando essa nova experiência. De minha parte, foi um voltar a viver os tempos passados, relembrando entrevistas com Sai, encontro com muitas pessoas interessantes e famosas como Hislop, Kasturi, Leonardo Gutter e muitos outros. Pensei muito nos tempos em que estudávamos em grupo os Vedas.
Uma vez, muitos anos atrás, Sai Baba, num mês de tempo, fez trinta e quatro discursos sobre os Vedas e depois nós reuníamos, no chão, ao ar livre, na mágica luz do luar para ler, comentar e procurar compreender tudo aquilo que Swami queria passar para nós. Na realidade mais importante que desenvolver o nosso aspecto intelectual, Swami queria transformar o nosso modo de sentir. A este propósito, acho interessante o que um famoso devoto Americano, na época dirigente da Organização Sai dos Estados Unidos, Bozzani disse. Ele teve o grande privilégio de ser convidado a falar, como era de costume, antes de Sai Baba.
Num determinado momento ele disse que era devoto de Baba há muitos anos! ...mas depois se corrigiu dizendo que ele nem sabe se é realmente um devoto de Baba, pois o único que pode avaliar isso é o próprio Baba. E voltando ao que estava dizendo, Swami quer transformar a nossa maneira de ser interior. Se realmente conseguiu ou não, só Ele sabe. Mas voltando ao tema, enfrentamos a longa viagem e por fim chegamos na Índia. Passamos uns dias em Bangalore. Nessa cidade fomos à famosa sede da Ramakrishna Mission em Bull Temple Road. Esse foi, para alguns, o primeiro grande impacto com o Hinduísmo e a filosofia mística daquele pais.
Assistimos aos Bhajans, voltamos a ver a pedra onde Sri Sarada Devi esposa-discípula de Ramakrishna meditava. Saímos de lá e logo depois, no dia seguinte, viajamos para o Ashram de Baba. Muita expectativa, sempre uma certa preocupação com relação à possibilidade de achar quarto no Ashram e, graças a Baba, todos tivemos quartos perto uns dos outros e a grande aventura tinha começado. De manhã cedo ir ao Mandir, ao lugar onde Baba, em algum momento, daria Darshan era muito emocionante.
Já o fato de estar nesse lugar sagrado era muito transformador. A sensibilidade interior cresceu muito! Tivemos uma devota Virginia que, cada vez que ia ao Mandir chorava. Estava inundada de bem aventurança. Na chegada, como anteriormente estabelecido começamos a usar uns lenços ou faixas para poder mostrar que nós éramos do Brasil, coisa que já ninguém mais usa. Nesses primeiros dias eu encontrei um devoto que logicamente tinha prestado atenção as nossas faixas Brasileira, pois ele era um carioca morando em Boa Vista, Roraima. Trata-se de um pediatra, amante da Floresta Amazônica, que trabalhava visitando e cuidando dos meninos Índios de toda aquela região. Aliás ele gosta tanto disso que fez um site chamadoImpressões Amazônicas e nele fala das suas experiências com os Índios. Contou-me que, por exemplo, com os Yanomamis, ele fala o idioma deles. Isso para mim foi um grande encontro, um exemplo do amor pela vida, pela natureza e pela consciência que Deus é toda esta maravilha que nos chamamos Universo.
No Mandir, íamos duas vezes ao dia de manhã e de tarde. Tudo começava com cantos Védicos por uma hora e depois tínhamos bhajans, quer dizer cantos devocionais. Sentados no chão, nos sentíamos como no paraíso! O tempo sumia e nós estávamos lá sentados no chão, olhando, com os olhos do coração a Baba. Baba, na realidade, aparecia fisicamente duas vezes. Ou melhor, deveria ter aparecido duas vezes ao dia, pois, soubemos que já estava mal. O nosso grupo viu Baba aparecer no Seu carrinho em ocasião de dois Darshans ou encontros. Uma, na noite quase as 7 da noite do dia 23 de março.
No dia seguinte não saiu e fez o último Darshan no dia 25. Depois as condições de saúde do nosso mestre deterioraram. Nada, com certeza, é por acaso, mas eu lembro que sai do último Darshan convencido que essa foi uma grande festa, um canto triunfal à vida. Ele teve a força de sair do carro e sentar na poltrona para poder ser visto por todos. Tinha música, muita emoção e nós estávamos muito felizes. Foi um sonho encantado! Ele abençoava e movia uma mão de um jeito como só Ele fazia. Era tudo belíssimo. Depois ficamos esperando, no dia seguinte, de tarde, por Ele,... mas, a nível físico, não veio.
Vimos aparecer uma ambulância e isso nos preocupou. Mas uma meia hora mais tarde, a ambulância foi embora vazia. Depois soubemos que Ele decidiu manda-la embora. Infelizmente, dois dias mais tarde, dia 28 às três e meia da tarde a ambulância veio e levou Sri Sathya Sai Baba para o Hospital que Ele mesmo tinha mandado construir anos antes. O Ashram ficou de repente, em silêncio. Os Indianos, parece que nestas ocasiões, ficam como calados na meditação. Provavelmente muitos deles mergulham no profundo silêncio como meditando de repente, nos pensamentos de Swami, nas sagradas Escrituras. Os Ocidentais muitos ficaram calados alguns chorando abertamente e foi assim que Prasanthi Nilayam, a Residência da Paz Suprema, o Ashram de Baba enfrentou esse grande momento de perda.
Depois começou o momento da expectativa. No começo chegaram notícias preocupantes do hospital. Depois se soube que os comerciantes, os lojistas que vivem e trabalham fora do Ashram, foram para o hospital e lá encontraram jornalistas de todos os canais de televisão, filmando e gravando comentários que eles não gostaram. Assim começaram a brigar, quebraram filmadoras e, só no final, apareceu a polícia e o exército. Evidentemente os comerciantes estavam também com medo de perder o trabalho deles pois afinal todos estavam aí por Sai Baba. E se não fosse por Ele, nesse lugar não teria nada e menos ainda comercio.
No dia seguinte, o nosso grupo tinha decidido ir a ver o lugar onde Baba tinha nascido. Saímos do Ashram e, em lugar de ver a rotineira confusão, lojas abertas, gente caminhando por todos os lados, vimos uma calmaria impressionante, poucas pessoas na rua e carros militares rodando para cima e para baixo fiscalizando tudo. Um juiz tinha ordenado que não se pudesse juntar mais do que quatro pessoas nas ruas. Portanto os grupos seriam presos ou convidados a separar se. Nós conseguimos chegar até a casa de Baba nesse dia tão difícil. Lá encontramos um templo e tinha sacerdotes fazendo alguma cerimônia religiosa. Na rua, alguém sozinho usava o telefone celular procurando ter notícias de Sai Baba. De fato, a cada dia, no jornal local saía uma comunicação médica falando da situação de saúde do Paciente!
Eu porém tinha a sensação que os médicos, sabendo que existiam perigos de violência, faziam boletins que, realmente falando, diziam muito pouco e sobretudo finalizavam comentando que toda a equipe médica estava com muito otimismo. Todos os dias, duas vezes por dia, nós íamos ao Mandir para participar dos Cantos Védicos e dos Bhajans. Eu pensava também no Avatar, mas também sabia que o Avatar, em Seu aspecto Divino, não desaparece nunca. Lembro agora de uma Americana, velha devota de Swami, a qual poucos dias antes de ir para o hospital, Baba teria dito “Eu não vou a lugar nenhum!” sem dar maiores explicações. Por isso eu penso que o Avatar está no Ashram sempre, só que nós perdemos o referencial do corpo físico d’Ele. Naquele período tinha devotos de muitos lugares do mundo. No quarto ao nosso lado, tinha uma turma de devotos Siberianos. Lembro que um dia me foram apresentadas duas pessoas daquele grupo e eu, quando soube de onde vinham, comentei “Lugar lindo e um pouco frio!” Todos deram uma gargalhada forte bem sabendo que não se tratava de.... friozinho mas sim de 40 ou 50 graus negativos muitas vezes!
Muitos aqui já ouviram falar de Krishnaswami. Mesmo naquele dia, eu tinha computador comigo e foi assim que Ele, por internet, me pediu para ir visitar algumas vezes o sogro dele. Um velho senhor muito representativo elegante, de uns 90 anos de idade, que estava com Baba havia 50 anos. Nós, Zaide e eu, acostumávamos ir lá para vê-lo de manhã antes do café da manhã, pois ele sempre nos convidava comer com ele e nós aproveitávamos para ouvir histórias de Baba dos velhos tempos, ou até contos sobre a vida de Rama ou Krishna que Swami relatara ao longo dos anos. Era como viajar na história, mergulhando num mundo de milhares de anos atrás.
Era como um banho na cultura Hinduísta vivenciando relatos de um mundo cheio de valores e de ideais . Srinivasa, esse é o seu nome, ainda faz palestras no Ashram semanalmente. Evidentemente é como se Swami me quisesse dizer: Eu tinha que ir embora mas deixo vocês mergulhados no mundo de Swami. Srinivasa tem uma senhora que cuida dele e faz comida para ele. Comemos Idlis e Dosas maravilhosos. ...e ela acabou ensinando a Zaide como fazer isso e fomos juntos a comprar inclusive os ingredientes. Srinivasa estava totalmente convencido que Swami se recuperaria pois devia acabar os últimos dez anos da Sua missão.
Participamos a uma palestra de Anil Kumar, justamente naqueles dias em que Baba estava no hospital. Obviamente, naqueles dias se falava muito da possível recuperação de Baba. Lembro perfeitamente que Anil Kumar disse muito claramente “Se alguém aqui pensa que eu sei algo sobre a saúde de Baba a mais do que todos vocês, está redondamente enganado”. Ele também estava muito preocupado e desejoso de ver Swami de volta quanto antes! Devo admitir que, mesmo naqueles dias em que Baba estava no hospital, apesar de todos os comentários dos devotos por aí, eu estava muito pouco convencido.
O que lia entre as linhas daqueles boletins médicos não era muito otimista. No dia 10 ou 11 de abril, o grupo viajou de volta e ainda tinha certa preocupação porque, como tinha polícia por todos os lados, decidiram viajar no dia anterior chegando lá para as 8 da noite no Aeroporto de Bangalore e passaram a noite esperando o voo. Naqueles dias, várias vezes a polícia mandou os carros voltarem para o Ashram. Zaide e eu ficamos em Prasanthi até o dia 20 de abril. Obviamente tinha sempre aquela esperança escondida que Swami voltasse mas tínhamos que sair. Depois a nossa programação previa voo para Itália e quinze dias mais tarde voltaríamos para Salvador. Lembro que num daqueles dias em que Swami estava no hospital, eu estava conversando com um Australiano no restaurante e ele estava quase que desesperado pois tinha um medo enorme de estar viajando e depois, de repente, perderia um Darshan de Baba. Pois até isso foi dito naqueles dias, que Swami seria dado de alta um dia mais tarde e depois Ele daria Darshan!
Encontramos lá algumas Brasileiras, não em grupo e faziam serviço no restaurante. Uma me pediu ajuda pois não sabia Inglês e queria fazer o curso de Medicina Vibracional que Swami aconselhava. Era uma senhora de Maceió.
Até hoje me sinto muito privilegiado por ter sido chamado para ir no Ashram justamente naqueles dias! Foram dias, de certa forma tristes, mas , ao mesmo tempo, importantes. Eu sei que a casualidade não existe e então, nesse momento o grupo do Itaigara estava quase todo lá aos pés do Avatar para receber a Sua Luz, Beleza e Bem aventurança mas, tudo isso terá um sentido se cada um souber fazer o seu Sadhana e viver mergulhado na Luz. Também é importante dizer que o Avatar não é e nunca foi só um corpo físico na Índia e sim uma realidade cósmica que abrange e envolve tudo e todos em Seu Infinito Amor. Vivam no Amor e sejam Felizes! Afinal, como diria Baba, todos vocês são encarnações do Amor!
J A Y S A I R AM
Em 22 de abril de 2012
Ambrogio Vittadini
Querido irmão, somente hoje li este texto que me encheu de saudades dos dias na Índia e da forma como nos conhecemos e viemos a nos encontrar em Salvador. Agradeço a Baba por esta oportunidade e a ti pela lembrança carinhosa deste irmão do norte.
ReplyDeleteFomos privilegiados por estarmos na Índia em momentos tão auspiciosos e por podermos ter presenciado os últimos Darshans.
Grande abraço no coração,
Om Sai Ram,
Altamiro